terça-feira, 30 de junho de 2015

eis que sido



lembranças sãos móveis se empoeirando no sótão



Anhangá
2015

foto Adriana Barata

bélica ou vulnerável?



invasão ou ataque
medo ou combate
resta saber
se por dentro
ou por fora 
o vidro
se parte


Cabo Frio
2015

foto Adriana Barata

segunda-feira, 29 de junho de 2015

para o bem de Benito



Para Benito
o limiar entre os reinos:
o real e o da Fantasia...

Benito já nasce fruto
(do amor entre a flor Juliana
cultivada no coração de terra de Mauro)
E um amor vasto assim
só poderia trazer ao mundo
fruto doce beija-flor
perfumado de jardim!

Que os Anjos e as Fadas da Natureza 

o abençoem
e sussurrem encantamentos em seus sonhos
para que Benito, com sua alma leve e sábia,
transite feliz entre as divinas possibilidades que a Vida oferece.

Que encontre puros
águas e ares,
corações e ideais,
grandes árvores e
pássaros com ninho.
E assim, por toda a vida,
alimentado seja
pelo amor de seus pais:
os terrenos e os celestiais!




Para o pequeno Benito, 
um beijo da Tia Dri e de todas as fadinhas, elfos, 
silfos, ondinas, dríades, duendes e gnomos da Anhangá!


Anhangá 
2012


foto Adriana Barata

ali mente




caneta e cajado
mato e papel
- eis o que me sustenta
 

(não obstante as doses de fel)



Anhangá
2012

foto Adriana Barata

domingo, 28 de junho de 2015

a terra horrorizar

Foto de Adriana Barata.


 Sempre acho estranho quando ouço:
"mão SUJA de terra".


Terra é algo sagrado. Terra é um milagre.

São nossas mãos que sujam a terra.
É nossa ganância que a torna impura.




Anhangá
2014


foto Adriana Barata

sobre viver (4) ou luzes do ofício

Foto de Adriana Barata.



 escrever é fotografar pensamentos


 
Anhangá
2014 

autorretrato 

bravura

Foto de Adriana Barata.


 reflexões praianas


o Mar é bravio.
mas também quer
que você o(se) enfrente!

é preciso por medida nos medos...




Cabo Frio
2015



foto Adriana Barata 

com tempo ação

Foto de Adriana Barata.

 
o banco
é um barco
destino inexato
da imaginação


um banco vazio
é barco no rio
ao mar destinado
quer queira quer não





Cabo Frio
2015


foto Adriana Barata

sexta-feira, 26 de junho de 2015

sentir nela a ventania


  
reflexões mateiras:
 

os dois casacos de frio 
pendurados no varal,
parecem dois sentinelas 

protegendo o meu quintal.




obs: Ventava. E eu ainda consigo 
sentir o vento deste dia...

Anhangá
2015

foto Adriana Barata
 

sobre viver (3) ou um vagão pra vagar

                                          


                                       

                       foto de Bruñel Galhego
                   Carro de Bagagem e Correio (1914)



(vaga o vagão devagar
até um beijo da luz ele ganhar)


ali
minha alma há de sentar-se,
e abraçada pela curva morna da madeira,
inclinar-se-á para frente
e tocará
- solene -
cada tecla...
sem pressa,
por toda a eternidade.




Juiz de Fora
junho 2015

quando o cloro clarear



Vez ou outra o mistério me (i)mobiliza.
E mesmo que eu busque sinais
para entender o que não está escrito
- tudo permanece: hieróglifo.



Tenho um bem querer muito especial por este potinho.
Foi-me dado por meu pai quando eu era ainda uma menina.



Praia do Quebra Anzol, Rio do Peixe: meu primeiro acampamento.
Claro que eu estava eufórica com a gigantesca serpente de água pousando sua cabeça numa prainha de areias claras (foi isto que eu, aos 6, 7 anos de idade, imaginei ao ver aquele mundão d'água se mexendo) . Era ali que ficaríamos por três noites. E não há outra forma de traduzir: eu estava tomada pelo encantamento.
Em meio à minha contemplação ativa: eu olhava, cheirava, tocava, ouvia... meu pai me chamou.
Bem antes da ante antevéspera, eu já havia pedido para ajudá-los, ele e meu irmão, a montar a barraca (naquela época era preciso uma certa força e habilidade para fixar as estacas no chão e "arribar" todos os quilos da danada). Queria provar que, mesmo sendo mulher, eu era capaz de fazer tudo que meu irmão, cinco anos mais velho, fazia há mais tempo - eu queria ESTAR no meio do mato!
Duas das seis estacas foram confiadas a mim. E fiz bonito.
Avancê esticado e lá fui eu falar 'oi' com o rio. Lembro-me de ajoelhar na prainha, abaixar a cabeça até a superfície da água e ...
- Adriana, você não pode beber dessa água!

 
Comprimidos de cloro. (Sempre achei que um dia salvariam minha vida...)

Na manhã seguinte, meu irmão achou uma nascente "confiável", segundo o "conhecimento mateiro" deles, eu fiquei feliz por beber uma água recém-nascida e ainda me sobraram quatro preciosos comprimidinhos dentro do fofo potinho que ganhei de presente.
E meu pai, meu pai nunca acreditou que eu só queria mesmo era dar um beijo no rio. 




Logo nos meus primeiros dias de 2015 no mato, esta coisinha me reaparece.
"Eu vou mesmo salvar sua vida" 


Hein? Eu ouvi o potinho falar, gente?!
Eu escutei ele dizer isto?!
O POTINHO?! Bem, talvez os comprimidos... Mas daí seria "salvaremos"...


"Fique alerta ao sinais, sincronias, sintonia..."
Este eu reconheço: é meu Anjo Guardião, logo:
- Bora lá, Potinho de Comprimidos de Cloro! Bora descobrir a sua charada!






Anhangá
2015


foto Adriana Barata

mato (mater) eterno

Foto de Adriana Barata.



mão do mato
de quem é
mãe dum mato




Anhangá
2015


foto Adriana Barata 

trazida do mar a concha chegar

Foto de Adriana Barata.



pura poesia concreta:
calçada de cálcio sob meus pés



(conchas são casas abandonadas...)



Cabo Frio
2015


foto Adriana Barata

quinta-feira, 25 de junho de 2015

quarta-feira, 24 de junho de 2015

acercar-se

Foto de Adriana Barata.



 nada me cerca
... só eu mesma...



Cabo Frio
2015



foto Adriana Barata

rapsódia

Foto de Adriana Barata.


 terra e água nos separam, 
amado meu;
mas, dentro de mim 

- amanheces todos os dias.



Araruama
2015

foto Adriana Barata

de chapéu e Cartola


                                                                                                                                                                     
"Anhangá 2014"
"Anhangá 2014"
 
"Quando eu piso em folhas secas..."
 
 
Anhangá
2014
 
foto Adriana Barata

ser Anhangá estar Anhangá


sobre a Anhangá:
 
(Estar no mato pra mim é VITAL!)
Lá eu me misturo com a mata e volto a ser o que sou na essência: 
genuína e nativamente - o bicho do mato, a 'moça da mata', a protetora e a protegida de Anhangá. 

 
Sou PROFUNDAMENTE grata (aos Pais Celeste e Terrestre) 
por poder, nesta existência: ser a guardiã daquele pedaço de terra!

Anhangá
2015

foto Adriana Barata

sobre viver (2)






Escrever demanda a leveza das penas (alma) e a densidade das tintas (sangue).


Juiz de Fora
2013

foto Web

ao calçar

Foto de Adriana Barata.
Foto de Adriana Barata.


 [Meu pai sempre brincava:
"Porque calçamos a bota e botamos a calça?"]



companheiras
na árdua missão
de traduzir os mapas
que a minha alma desenha



As minhas e as de Van Gogh.

Anhangá 
2013 

foto Adriana Barata

há tempo(s)

Foto de Adriana Barata.


Tempo
o Senhor da Lembrança
e do Esquecimento...



(fragmento de texto do documentário COR -
sobre a arte visceral de Edna Rezende - 2008)



Anhangá 2014

foto Adriana Barata 

dê, pois





Foto de Adriana Barata.

 
a delicadeza da vida após a morte ou:
das belezas impermanentes e pequenas certezas



Anhangá 2014

fotos Adriana Barata

toques e trocas

Foto de Adriana Barata.
Foto de Adriana Barata.

 
Carinho no mato...
Carinho de mato.


Anhangá 
2014

foto Adriana Barata

o tom do olhar

"Equinócio de Outono

A Mãe Terra 
puxa seu manto de folhas
e prepara seu adormecer...

Anhangá 2014"




Equinócio de Outono

A Mãe Terra
puxa seu manto de folhas
e prepara seu adormecer...



Anhangá 2014

foto Adriana Barata

abra braços

"A vida sempre encontra caminhos.
E se espalha, forte e delicada.

Anhangá 2014"



A vida sempre encontra caminhos.
E se espalha, forte e delicada.



Anhangá 
2014

foto Adriana Barata

Oração Alada

Foto de Adriana Barata.

 (De alma leve
em pedras lavada
te chegues esta energia
em palavras aqui lançadas)


água de nascente
água doce recém nascida
abraçada pela mata
com a ancestral força da vida
água que desperta a semente
água fresca água pura
água que mata a sede
sagrada água que cura
que chegue em teu leito
invada teu peito
e a traga de volta
- voz e coração


(E são tantos
- Moça Dany policromada -
em oração e cantiga
que, sem que assim
tanto a conheça,
tornei-me de ti tão amiga)


Volte em teu tempo de plena cura,
que estamos espalhando flores em teu caminho
e aquecendo abraços pra te celebrar.



(para a estrela Dany Black, águas de Anhangá 2014)

foto Adriana Barata

(FotoUrbanidades)

Foto de Adriana Barata.



Há tempos sou vegetariana.
Entretanto, algumas raras vezes,
abro exceções...
(Talvez seja minha alma de carcará.)


Cidinha também quase não come carne;
mas sempre reserva um suprimento
de alguma ‘iguaria carnívora’ para suas visitas.


(O prazer de agradar é tamanho,
que ela havia se esquecido de minha ‘opção alimentar’.)


Então, dar a ela a alegria de me ver
provar esta linguiça caseira,
defumada no seu fogão a lenha,
- mais do que o corpo -
me alimentou a alma.



Reserva Sarandi
outubro 2014

foto Adriana Barata

olhares

"Sempre tive boas lembranças com o cheiro de querosene."
"Alternativa B: banho de caneco.
(que, particularmente, acho de um aconchego quase maternal.)"



As coisas simples despertam a complexidade da Vida em mim. 

(A riqueza da vida está longe da superfície...)


Reserva Sarandi
outubro 2014


foto Adriana Barata 

ouro em pó

  



    Certamente aquele abacateiro tinha menos de 50 anos...
    Mas era sob sua dadivosa sombra que se reunira mais de uma centena de amigos e familiares de Dona Marta e Seu Derly; ali comemorando suas Bodas de Ouro.
    Ah... Há quanto tempo eu não participava de uma missa campal, sob a cúpula divina da primeva igreja: o céu azul celeste!
    Ah, e como estava azul o céu daquele 11 de outubro. Já primavera, ainda sem chuvas.

    Terreiro capinado, terra nua varrida, exposta – um tapete. Muitos e singelos bancos de madeira bruta rodeavam o altar, também de madeira, coberto com uma toalha branca bordada.  Logo atrás dele, uma cortina de flores brancas e amarelas sorrindo, frescas, a enfeitar os olhos da pequena multidão. E, bem ao lado, sob uma rendada sombra projetada por um dos galhos do abacateiro: duas poltronas.
    Macias, de um cinza fechado como céu carregado, pouco antes da chuva desabar.
    Havia algo de especial nelas. Talvez fosse a primeira vez que saiam de dentro de casa, da sala; exceto, claro, em dias de grandes faxinas, quando quase tudo vai para o terreiro; ou quando da reforma do telhado.
  Mas naquela manhã – era diferente.
  Deslocadas naquele ambiente, se destacavam; tornavam-se inegavelmente especiais, ganhavam ainda mais maciez e status de ‘local de honra’. Sob a densa sombra rendilhada, simbolizavam o aconchego em meio às durezas da vida.  
  Durante toda aquela manhã, até pouco mais de meio-dia, as duas poltronas, coladas uma à outra - eram de Marta e Derly.
  Antes do início da missa, abaixei-me diante das poltronas para lhes elogiar a elegância.
  Um bem cortado vestido cinza-prateado e um delicado par de sapatos de salto; uma impecável camisa cinza-azulada e um fino par de sapatos lustrados: assim o casal celebrou seus 50 anos juntos. Com a alegre beleza dos nubentes.

  Conscientemente ressaltei os ‘cinzas’ desse dia quente de céu azul sem nuvens... E, diante desta seca histórica - não é tão difícil reconhecer meus motivos.
    Céu de chumbo. Chuva pesada.
    Durante todo o percurso até a serra, às margens das estradas, tanto das de terra quanto das asfaltadas: sinais de queimada. Horrendo manto negro estendido sobre a pele nua da terra. Terra que fica desprotegida. Sem mato. Sem água. Sem vida.

    Vivificada, após uma missa tão especialmente bonita e verdadeiramente tocante, fui cometer meu pecado – do qual ainda pretendo me libertar –, o hábito de fumar.
    Procurei por um dos muitos bancos, por fim desocupados, e, confortavelmente sentada à sombra, acendi meu cigarro.
    Antes mesmo que eu soltasse a primeira baforada, ganhei companhia. Seu Antônio, professor aposentado primo de Seu Derly, gentilmente pediu-me licença e sentou-se ao meu lado. Em seguida tirou do bolso da camisa um pequeno maço de cigarros de palha.

    Fumante com eu, meu amigo Felipe (com quem fui de carona juntamente com o futuro Médico de Família Zé Vitor, um dos quatorze netos do casal) sabiamente levou uma garrafinha plástica com um dedo de água no fundo: nosso ‘cinzeiro responsável’.
    Já ali, em meio à festa, alguns balaios forrados com sacos plásticos serviam de lixo. Assim, apagava a bituca na terra poeirenta e jogava-a no estiloso lixo improvisado.

    Vícios e cuidados à parte, durante a gostosa prosa com Seu Antônio, falamos, diante do calor blasfemicamente infernal, sobre a seca.
    “É...”, disse ele reacendendo o cigarro apagado, “mas se é da vontade de Deus, nós temos que aceitar.”
    À citação do nome do Altíssimo, Seu Antônio, homem religioso e educado que é, levantou automaticamente a aba do chapéu. Gesto respeitoso que sempre copiei e admirei em vivências interioranas.

    Naquele momento fui desrespeitosa com Seu Antônio:
    “Não, Ele não quer não, Seu Antônio! Absolutamente. O senhor está errado! Garanto ao senhor que é muito mais irresponsabilidade nossa, que vontade divina! Ora, não haveria Ele de destruir o equilíbrio perfeito que criou, o senhor não acha? “Faça a tua parte que eu lhe ajudarei”. E o que estamos fazendo, Seu Antônio?! Colocando nas mãos Dele a culpa que é nossa! Somos nós que estamos destruindo  o mundo que Ele nos confiou a morada. De certo não está sendo e nem será impunemente. Já pensou em que tipo de mundo todas estas crianças viverão? “

    Desvio o olhar de algumas crianças que brincam distraídas enquanto aguardam na fila o momento de abraçar e beijar os ‘noivos’.
    Como o ato de imaginar é poderoso...
    Internamente, em pensamento, eu enfrentava o olhar assustado e magoado de Seu Antônio; por fora, tudo o que fiz foi pronunciar um fraco e arrastado “É...”.
    Sorri para ele e ele me sorriu de volta. Concordamos serenamente que Deus sabe o que faz.

    Nunca. Nunca eu me permitiria sequer parecer grosseira com um ser humano tão gentil e cheio das sapiências da vida como o Seu Antônio. Normalmente discuto, com bastante educação (mas também veemência), questões relativas à proteção do meio ambiente. Sempre acreditei que depois que a Terra deixou de ser considerada sagrada - uma covarde usurpação começou. De Mãe provedora à Virgem violada. Cruel, incessante e inescrupulosamente violada.
    Eu, há muito (ou desde sempre), escolhi defender a Vida.

    Olhei ao redor. Em pensamento, abafei o alegre burburinho dos convidados. E também de todos os bichos silvestres e domésticos, visivelmente contagiados pela bela festança.
    Fez-se um silêncio iluminado. Para onde quer que eu olhasse havia sorrisos, de todas as idades. A felicidade era palpável, estava nos rostos daquelas pessoas. Vinha do coração e chegava aos lábios. Simples assim.
   Sorri novamente; eu também estava feliz. Bem feliz, aliás. Tirando a seca.

   Não sei o porquê de eu sequer ‘discordar um pouquinho’ da afirmação conformada do meu companheiro de pito. Talvez tenha sido a benfazeja sensação de ser abençoada, por estar ali, participando daquela riqueza toda.
    Talvez porque quisesse acreditar (com toda a minha então pouca fé) que sim - é Vossa real e suprema vontade.  Depois acaba o castigo.     Havemos de aprender, ó, Pai Nosso, que estais no céu. Santificada volte a ser a Vossa Terra.

    Alma alimentada de homilia, prosa e poesia, era hora de, deselegantemente, encher a pança e lamber os beiços. O cheiro da boa e farta comida mineira feita em fogão a lenha: era irresistível! O tamanho das panelas impressionava; o sabor, a variedade, a abundância, tudo alimentaria os melhores comentários – inevitáveis – no pós-festa. Meus inclusive.

(Aproveito para parabenizar o meu amigo e produtor, décimo primeiro filho de Dona Marta e Seu Derly: o Cézar. E todos os Oliveira Campos com quem ele contou para tornar real o ouro dessas Bodas!)

  ‘Almocei feito um padre’.
    E quem disse que todo o provérbio ‘é batata’? Infalível? Amigos, há exceções. Padre Everaldo não repetiu. Estava com certa pressa. Sua paróquia o esperava; nobres compromissos.
    Assim que, Felipe e eu, confesso por mim e por ele, só não cometemos o pecado da gula porque éramos responsáveis por dar carona ao muito querido e simpático padre. Teríamos de partir.
    Antes, um doce de leite com queijo (com gostinho de quero mais) comido na gostosa intimidade da cozinha. Depois, para saborearmos em casa, um corte de doce caseiro de pera nos foi ofertado por Dona Marta. Confesso que estas doses de carinho/açúcar ajudaram a compensar a leve tristeza de ter de sair dali tão ‘temprano’, como se diria mais musicalmente, em espanhol.
    Queria ter conversado com o senhor que tocou violão durante a missa, queria ter conversado com cada um dos onze irmãos, noras, genros, netos, netas, primos, primas, amigos, vizinhos. Queria ter me enriquecido mais com o ouro dessas pessoas.

    Poeira e pó, mata-burros e porteiras, pastos, pontes e pouca água nos brejos de secas taboas.
    Papo bom, sol escaldante.
    Numa curva da estrada, numa rápida e saudável toada roceira: um convidado está indo de volta para casa. É um senhor de cabelos muito brancos e blusa muito verde. Também ele tem seus nobres afazeres, suas criações o esperam. Oferecemos-lhe carona e ele de pronto aceitou.
    Paramentos do padre ajeitados no banco e seguimos viagem; agora em cinco: o senhor e eu atrás, Felipe e o padre na frente, e Deus – com Sua onipresença.
    Várias foram as vezes em que invocamos o nome de Deus. Não em vão.

    “Amanhã, nóis vai tudo subi lá no arto do cruzeiro – mode rezá e pedi a Deus pra mandá chuva pra gente...”

    Santo seja o senhor, cujo nome eu não tive tempo de perguntar. Santa seja a tua reza. Milagrosa seja a tua reza. Ouvida seja a tua prece aos pés do cruzeiro, no alto da serra, à beira da mata.  Agradeço a tua fé, agradeço a tua oração que a mim e a todos beneficia. Que Deus te ouça, amigo.
    E se “a fé move montanhas”, que esta mesma fé nos traga água (que vida é em abundância).
    Que aprendamos - finalmente - que fazemos parte desse Todo que chamamos de Natureza. Que somos responsáveis por manter o mistério da Vida neste planeta, em nome de nossa porção racional e divina.

    Logo desceu o bento senhor, logo chegamos ao asfalto, logo chegamos a Juiz de Fora.
    Viagem boa é assim, quando o caminho em si já é um grande encontro.
    Felipe, fotógrafo sensível e talentoso, teve um suave filtro empoeirado para difundir sua luz; e eu: inesquecíveis e preciosos momentos para guardar no porta-joias da memória.
    Ouro. Bodas de Ouro.



Serra de Ibitipoca

foto Felipe Saleme